A madeira gasta pelo tempo, sublimada pela beleza das flores, recebe as primeiras manchas que o orvalho da manhã traz consigo. Algumas dessas manchas são lágrimas do meu Sentir. Outras são partículas desse átomo que é a Vida.
Um conjunto de lágrimas marca o chão. O chão de tábuas que regista cada passo da existência e recebe o caminhante com os seus pés descalços.
Um vaso de Hortênsias. Muitas folhas verdes no vaso. Cada folha de Hortênsia adorna cada pétala branca e dá cor aos sentidos dispersos nas mãos do vento. O mesmo Vento que comanda o destino e outorga a Vida.
Uma porta aberta. O vidro da porta reflecte os sentidos da Alma. Porta para o outro lado do Ser: convite sem laço. A ausência. O vazio imenso dos sentidos. As lembranças que ardem no peito como eclipses de fogo. A dor. Uma dor intensa e aguda. Tudo isto é saudade do que foi e agora faz doer.
Talvez um dia, ou num instante apenas, a chuva me lave o Ser. Talvez as recordações já não sejam pássaros de asas presas. Talvez o Tempo disperse as mágoas no Vento e ordene que as enterre do outro lado do mar, onde o teu Sentir não pode chegar.
E a dor sempre presente. Dor. Atalho de Amor.