Friday, May 29, 2009

A dança do louco.


E há furtos que nada mais são do que frutos de Amor: nas mãos dos que sonham! Há Homens e cada Homem tem o tamanho do seu abraço (seu sentir). Há danças e há os que assistem à dança dos que dançam, sem saber, uma dança dentro de si.
Em comum nos frutos e nos furtos, nas danças e não danças (contra – danças da vida): o Amor que cada Ser carrega em si: dádiva inata – simples dívida quando não há partilha, quando o Amor não dança e o furto permanece.
Que sempre te seja permitido sonhar. Sempre. Mesmo. E que neste sonho a vida valse.
Que o Sonho seja um dois de espadas, um ás de copas, um três de paus, um dois de ouros ou um três de ouros e que o louco que sonha não pare nunca de dançar.
Mesmo que esta dança seja, ao olhar dos outros, um furto à razão.

Monday, May 25, 2009

Almas pintadas pelo mesmo Sentir


E nesse teu mundo, que às vezes também é meu, existem pássaros, confidentes do teu Sentir. Existem folhas cadentes, estrelas de um outro céu: o teu céu que às vezes também é meu. Existe um mundo para lá de todos os sentidos e de todos os que sentem: mundo teu, mundo nosso.
E nesse chão que ambas pisamos: tu com as sandálias brancas, rasas, de uma só tira de couro e eu descalça, sempre descalça, percorremos caminhos à espera de lugares onde as nossas Almas possam entrar, onde elas possam morar ou apenas, breves eternos momentos, ficar. Ficar como quem fica num sonho ainda depois de acordado: um sonho recordado.
Esses muros: pedras gastas do Tempo testemunham os bocados de Sentir: do teu Sentir, do meu também. Esse vestido da cor do sonho que envergavas na tua infância e que ainda hoje envergas: só tu sabes, só tu sentes, só tu vês. Ninguém sabe que ainda estás presa na infância. Ninguém sabe os sentidos que enclausuras em ti e te recusas a libertar. Apenas tu, pequena grande rainha, princesa aos olhos teus.
As coisas que moram em nós, no mais profundo do Ser jamais mostramos aos que se recusam Sentir. As mesmas coisas que moram no rés-do-chão do teu olhar: olhar de mil encantos, de mil quebrantos – tesouro infinito.

Tu és tela de mil sentidos, pintura inacabada. Ou simples pauta por encetar. Brisa celeste nas mãos do Vento. Os teus pensamentos voam de mãos dadas com o meu Sentir porque te conheço a Alma: igual à minha: Almas pintadas pelo mesmo Sentir.

Monday, May 18, 2009

Guardião da Lua:


Em Nome de tudo o que protege um Ser eu invoco as forças do que te pode guiar.
Percorrerás caminhos onde a escuridão será maior que o dia mas continuarás sempre sem cessar.
Nem a voz do galo ou o piar do mocho te impedirão de caminhar. Ainda que faminto ou roto e que a Vida tenha feito de ti um maltrapilho – de vestes remendadas e pouco apresentáveis – nunca o serás aos olhos dos que lutam a teu lado. Mesmo os que se escondem e apenas a ti se juntam com desejos de bem-querer.
Tens a Lua como rainha. Soberana dos teus segredos. Coroaste-a com os teus sentidos e sem voltar atrás porque um bom cavaleiro, guardião ou senhor jamais retrocede no seu sentir, continuas a luta: conquistas sentidos.
Nessa cartografia que tens dentro de ti, cartografia íntima, tatuas linhas que a Lua ordena.
Fazes dos orvalhos da manhã gotas suculentas de prazer ou apenas tinta que usas nas páginas onde desenhas os teus sonhos. Tudo sob a vontade da Lua. A Lua, doce cortesã. A mesma que tu guias e que te guia: sem jamais perder cada traço ou simples rasto que deixas no teu caminhar.
Serás o Último dos heróis sobre a Terra: já não há heróis espirituais. Já não há amor pelas Glórias imortais: sentimentos que tudo valem, que tudo merecem e que poucos conhecem ou ousam conhecer.
Em Nome de tudo o que existe e do que não teve lugar na existência: daquilo que foi apenas um caminho, sem nunca se tornar um lugar – todos devemos ousar Ser um Lugar nos caminhos de alguém - eu te nomeio Príncipe dos Sentidos, rei dos maltrapilhos, cortesão dos bosques e das matas e serras, senhor sem castelo.
Eu te nomeio, com esta espada, Guardião da Lua, herdeiro do Escritor, do primeiro escritor que a Terra viu e de mim se esqueceu. Mas tu, jamais te esquecerás de me guardar, de me honrar, de perseverar nas tempestades em nome de mim.
Faço de ti um senhor cujas vestes nada valem, cujo sentir está na espada que guardarás como um utensílio, não de guerra mas de Paz: arma de defesa dos Sentidos. A ela recorrerás nos momentos de dor, pura aflição: serão imensos. Muitos. Mesmo. Infinitos.
Nesses momentos colherás todo o Sabor da existência: serão caminhos, conduzir-te-ão aos lugares mais recônditos dos sentidos: aqui serás Senhor.
Este é o teu reino: reino da dor. Reino da expiação. Reino do sofrer como provação.