Tuesday, June 23, 2009

História sem dono


A madeira gasta pelo tempo, sublimada pela beleza das flores, recebe as primeiras manchas que o orvalho da manhã traz consigo. Algumas dessas manchas são lágrimas do meu Sentir. Outras são partículas desse átomo que é a Vida.
Um conjunto de lágrimas marca o chão. O chão de tábuas que regista cada passo da existência e recebe o caminhante com os seus pés descalços.
Um vaso de Hortênsias. Muitas folhas verdes no vaso. Cada folha de Hortênsia adorna cada pétala branca e dá cor aos sentidos dispersos nas mãos do vento. O mesmo Vento que comanda o destino e outorga a Vida.
Uma porta aberta. O vidro da porta reflecte os sentidos da Alma. Porta para o outro lado do Ser: convite sem laço. A ausência. O vazio imenso dos sentidos. As lembranças que ardem no peito como eclipses de fogo. A dor. Uma dor intensa e aguda. Tudo isto é saudade do que foi e agora faz doer.
Talvez um dia, ou num instante apenas, a chuva me lave o Ser. Talvez as recordações já não sejam pássaros de asas presas. Talvez o Tempo disperse as mágoas no Vento e ordene que as enterre do outro lado do mar, onde o teu Sentir não pode chegar.

E a dor sempre presente. Dor. Atalho de Amor.

Monday, June 8, 2009

Os subterrâneos do Amor


Uma tela por pintar. Uma Gardénia sem perfume. Brisas que o Tempo guardou. Segredos por dizer. Silêncio. Ausência dos Sentidos. Era uma vez uma brisa enclausurada nas mãos do Tempo, companheira dos dias e das noites sem vez. Era uma vez um ser, perdido nas fendas de um labirinto qualquer. Era uma vez, nalgum Tempo, numa hora qualquer, um sono de mulher: olhos pequenos e solitários, amargurados pelo Sentir.
E era uma vez todas as vezes sem ser, todas as palavras por dizer, todas as pautas por encetar, todos os mundos fundos e frios que ao Sentir sem dono pertencem…
E nesse dia um palhaço que dança. A dança da solidão: sete passos errantes num enorme salão vazio. Sete passos de nada. Pobre viver! E as tintas do rosto desfeitas pelos rios dos olhos: Subterrâneos do Amor.
Reinventem o mundo. Suba o Homem às árvores e nelas nidifique sonhos. Os sonhos que poucos sentem a coragem de pintar. E nas cabeças carreguem o feno: árduo viver! E por terra façam a caruma de outros tempos permanecer. Dias infinitos para o Sonhador.
Um laço de cetim branco: símbolo dos sentidos perdidos, enclausurados, nessa moldura por encetar: mil e um são os Subterrâneos do Amor.

Wednesday, June 3, 2009

PASSAGEM PROIBIDA


Porque fechas as cortinas à noite? Não sabes que é maior a noite que o teu Ser?
Porque temes abraçar o mundo: viver? Não sabes que é maior a vida que o abraço?

Porque esperas – esperas infinitas – por quem nunca merecerá o teu Sentir?
Desbloqueia as janelas que impedem a tua Alma de se abrir - ainda que tenhas de habitar lugares perdidos, passagens proibidas – saibas sempre: sempre sorrir.
Ainda que o sorriso apenas, dentro de ti, aconteça.
E aos olhos dos outros ele esmoreça.
Reinventa mundos: cria sorrisos.
Saibas sempre que existem dois lados para uma mesma coisa: a janela que se abre, também se fecha.
Porque um sorriso por detrás de uma cortina é um abraço à espera que aconteça.