Tuesday, November 24, 2009

FRIO DE AMOR


"Nas ligações do coração, como nas estações, os primeiros frios são os mais sensíveis". Bernard Fontenelle

Se te disserem que os pássaros à noite não voam, não acredites: duvida duas vezes da palavra dita porque eu estou aqui.
Estou sempre perto de ti: aqui, em ti.
Se eu mandasse em mim
mandava parar o tempo,
ficava suspensa como ave que paira no céu à espera do momento
À espera de te ver chegar
À espera de te ouvir anunciar
que eu sou todos os diamantes que trazes no peito.
E
dir-te-ei, apenas, tão breve como o pó de que os dias são feitos:
“ Tu és gnômon apontando para o meu céu, um pedaço tão meu.”
Somos filhos de Novembro, amantes de abraços iguais
parentes dessa Lua
que aparece escondida
ou
perdida no cais.

Tuesday, June 23, 2009

História sem dono


A madeira gasta pelo tempo, sublimada pela beleza das flores, recebe as primeiras manchas que o orvalho da manhã traz consigo. Algumas dessas manchas são lágrimas do meu Sentir. Outras são partículas desse átomo que é a Vida.
Um conjunto de lágrimas marca o chão. O chão de tábuas que regista cada passo da existência e recebe o caminhante com os seus pés descalços.
Um vaso de Hortênsias. Muitas folhas verdes no vaso. Cada folha de Hortênsia adorna cada pétala branca e dá cor aos sentidos dispersos nas mãos do vento. O mesmo Vento que comanda o destino e outorga a Vida.
Uma porta aberta. O vidro da porta reflecte os sentidos da Alma. Porta para o outro lado do Ser: convite sem laço. A ausência. O vazio imenso dos sentidos. As lembranças que ardem no peito como eclipses de fogo. A dor. Uma dor intensa e aguda. Tudo isto é saudade do que foi e agora faz doer.
Talvez um dia, ou num instante apenas, a chuva me lave o Ser. Talvez as recordações já não sejam pássaros de asas presas. Talvez o Tempo disperse as mágoas no Vento e ordene que as enterre do outro lado do mar, onde o teu Sentir não pode chegar.

E a dor sempre presente. Dor. Atalho de Amor.

Monday, June 8, 2009

Os subterrâneos do Amor


Uma tela por pintar. Uma Gardénia sem perfume. Brisas que o Tempo guardou. Segredos por dizer. Silêncio. Ausência dos Sentidos. Era uma vez uma brisa enclausurada nas mãos do Tempo, companheira dos dias e das noites sem vez. Era uma vez um ser, perdido nas fendas de um labirinto qualquer. Era uma vez, nalgum Tempo, numa hora qualquer, um sono de mulher: olhos pequenos e solitários, amargurados pelo Sentir.
E era uma vez todas as vezes sem ser, todas as palavras por dizer, todas as pautas por encetar, todos os mundos fundos e frios que ao Sentir sem dono pertencem…
E nesse dia um palhaço que dança. A dança da solidão: sete passos errantes num enorme salão vazio. Sete passos de nada. Pobre viver! E as tintas do rosto desfeitas pelos rios dos olhos: Subterrâneos do Amor.
Reinventem o mundo. Suba o Homem às árvores e nelas nidifique sonhos. Os sonhos que poucos sentem a coragem de pintar. E nas cabeças carreguem o feno: árduo viver! E por terra façam a caruma de outros tempos permanecer. Dias infinitos para o Sonhador.
Um laço de cetim branco: símbolo dos sentidos perdidos, enclausurados, nessa moldura por encetar: mil e um são os Subterrâneos do Amor.

Wednesday, June 3, 2009

PASSAGEM PROIBIDA


Porque fechas as cortinas à noite? Não sabes que é maior a noite que o teu Ser?
Porque temes abraçar o mundo: viver? Não sabes que é maior a vida que o abraço?

Porque esperas – esperas infinitas – por quem nunca merecerá o teu Sentir?
Desbloqueia as janelas que impedem a tua Alma de se abrir - ainda que tenhas de habitar lugares perdidos, passagens proibidas – saibas sempre: sempre sorrir.
Ainda que o sorriso apenas, dentro de ti, aconteça.
E aos olhos dos outros ele esmoreça.
Reinventa mundos: cria sorrisos.
Saibas sempre que existem dois lados para uma mesma coisa: a janela que se abre, também se fecha.
Porque um sorriso por detrás de uma cortina é um abraço à espera que aconteça.

Friday, May 29, 2009

A dança do louco.


E há furtos que nada mais são do que frutos de Amor: nas mãos dos que sonham! Há Homens e cada Homem tem o tamanho do seu abraço (seu sentir). Há danças e há os que assistem à dança dos que dançam, sem saber, uma dança dentro de si.
Em comum nos frutos e nos furtos, nas danças e não danças (contra – danças da vida): o Amor que cada Ser carrega em si: dádiva inata – simples dívida quando não há partilha, quando o Amor não dança e o furto permanece.
Que sempre te seja permitido sonhar. Sempre. Mesmo. E que neste sonho a vida valse.
Que o Sonho seja um dois de espadas, um ás de copas, um três de paus, um dois de ouros ou um três de ouros e que o louco que sonha não pare nunca de dançar.
Mesmo que esta dança seja, ao olhar dos outros, um furto à razão.

Monday, May 25, 2009

Almas pintadas pelo mesmo Sentir


E nesse teu mundo, que às vezes também é meu, existem pássaros, confidentes do teu Sentir. Existem folhas cadentes, estrelas de um outro céu: o teu céu que às vezes também é meu. Existe um mundo para lá de todos os sentidos e de todos os que sentem: mundo teu, mundo nosso.
E nesse chão que ambas pisamos: tu com as sandálias brancas, rasas, de uma só tira de couro e eu descalça, sempre descalça, percorremos caminhos à espera de lugares onde as nossas Almas possam entrar, onde elas possam morar ou apenas, breves eternos momentos, ficar. Ficar como quem fica num sonho ainda depois de acordado: um sonho recordado.
Esses muros: pedras gastas do Tempo testemunham os bocados de Sentir: do teu Sentir, do meu também. Esse vestido da cor do sonho que envergavas na tua infância e que ainda hoje envergas: só tu sabes, só tu sentes, só tu vês. Ninguém sabe que ainda estás presa na infância. Ninguém sabe os sentidos que enclausuras em ti e te recusas a libertar. Apenas tu, pequena grande rainha, princesa aos olhos teus.
As coisas que moram em nós, no mais profundo do Ser jamais mostramos aos que se recusam Sentir. As mesmas coisas que moram no rés-do-chão do teu olhar: olhar de mil encantos, de mil quebrantos – tesouro infinito.

Tu és tela de mil sentidos, pintura inacabada. Ou simples pauta por encetar. Brisa celeste nas mãos do Vento. Os teus pensamentos voam de mãos dadas com o meu Sentir porque te conheço a Alma: igual à minha: Almas pintadas pelo mesmo Sentir.

Monday, May 18, 2009

Guardião da Lua:


Em Nome de tudo o que protege um Ser eu invoco as forças do que te pode guiar.
Percorrerás caminhos onde a escuridão será maior que o dia mas continuarás sempre sem cessar.
Nem a voz do galo ou o piar do mocho te impedirão de caminhar. Ainda que faminto ou roto e que a Vida tenha feito de ti um maltrapilho – de vestes remendadas e pouco apresentáveis – nunca o serás aos olhos dos que lutam a teu lado. Mesmo os que se escondem e apenas a ti se juntam com desejos de bem-querer.
Tens a Lua como rainha. Soberana dos teus segredos. Coroaste-a com os teus sentidos e sem voltar atrás porque um bom cavaleiro, guardião ou senhor jamais retrocede no seu sentir, continuas a luta: conquistas sentidos.
Nessa cartografia que tens dentro de ti, cartografia íntima, tatuas linhas que a Lua ordena.
Fazes dos orvalhos da manhã gotas suculentas de prazer ou apenas tinta que usas nas páginas onde desenhas os teus sonhos. Tudo sob a vontade da Lua. A Lua, doce cortesã. A mesma que tu guias e que te guia: sem jamais perder cada traço ou simples rasto que deixas no teu caminhar.
Serás o Último dos heróis sobre a Terra: já não há heróis espirituais. Já não há amor pelas Glórias imortais: sentimentos que tudo valem, que tudo merecem e que poucos conhecem ou ousam conhecer.
Em Nome de tudo o que existe e do que não teve lugar na existência: daquilo que foi apenas um caminho, sem nunca se tornar um lugar – todos devemos ousar Ser um Lugar nos caminhos de alguém - eu te nomeio Príncipe dos Sentidos, rei dos maltrapilhos, cortesão dos bosques e das matas e serras, senhor sem castelo.
Eu te nomeio, com esta espada, Guardião da Lua, herdeiro do Escritor, do primeiro escritor que a Terra viu e de mim se esqueceu. Mas tu, jamais te esquecerás de me guardar, de me honrar, de perseverar nas tempestades em nome de mim.
Faço de ti um senhor cujas vestes nada valem, cujo sentir está na espada que guardarás como um utensílio, não de guerra mas de Paz: arma de defesa dos Sentidos. A ela recorrerás nos momentos de dor, pura aflição: serão imensos. Muitos. Mesmo. Infinitos.
Nesses momentos colherás todo o Sabor da existência: serão caminhos, conduzir-te-ão aos lugares mais recônditos dos sentidos: aqui serás Senhor.
Este é o teu reino: reino da dor. Reino da expiação. Reino do sofrer como provação.